Introdução
No dicionário, o termo “evasão” significa o ato ou o processo de evadir, ou seja, o ato de desistir ou abandonar. Na UFPE, dizemos que um aluno evadiu quando ele se desvinculou do curso ao qual ele estava matriculado. Isso pode ocorrer tanto por solicitação do próprio aluno quanto por desvinculação pela instituição, seja por recusa de matrícula ou por perda do prazo de matrícula.
A evasão do aluno de uma instituição pública de ensino superior representa um problema para a sociedade, pois a desistência de um discente representa perda de recursos a todos os envolvidos no processo de ensino.
Nesse contexto, o presente trabalho visa investigar os fatores que geraram a evasão dos ex-alunos da Universidade Federal de Pernambuco.
A importância deste estudo está em identificar as principais causas que influenciam os alunos a abandonarem seus cursos, com o intuito de nortear os gestores da instituição na criação de ações para mitigar essas causas.
Série Histórica da Evasão na UFPE - 2016 a 2022
Apresentar a Série Histórica da Evasão na UFPE entre 2016 e 2022 é de extrema importância para fornecer uma visão abrangente das tendências e padrões que podem influenciar o comportamento dos alunos em períodos específicos e para garantir que os resultados da pesquisa sejam contextualizados de maneira adequada, oferecendo uma compreensão mais profunda e informada sobre a evasão na UFPE.
Taxa de Evasão Anual
Desde de 2016 as maiores taxas de evasão na UFPE ocorreram em 2020, ano em que se iniciou a pandemia da Covid-19, e em 2022. Os resultados são apresentados no Gráfico 1.
Gráfico 1 - Taxa de Evasão Anual da UFPE
Taxa de Evasão por Campus
Com exceção do ano de 2020, as maiores taxas de evasão ocorreram em 2022 nos campus de Vitória e Caruaru. No entanto, o campus de Caruaru possui a maior taxa média de evasão: 11,7%. Os resultados são apresentados no Gráfico 2.
Gráfico 2 - Taxa de Evasão Anual por Campus
Taxa de Evasão por Grau
Com exceção da ABI (Área Básica de Ingresso), a taxa média de evasão é maior nos cursos de licenciatura, com o valor de 13,5%. Os resultados são apresentados no Gráfico 3.
Gráfico 3 - Taxa de Evasão Anual por Grau
Taxa de Evasão por Turno
Nos cursos presenciais, as maiores taxas médias de evasão são nos turnos Noturno (12,3%) e Vespertino (11,6%). Os resultados são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Taxa de Evasão Anual por Turno
Taxa de Evasão Anual por Área do CINE Brasil
O CINE Brasil é uma classificação adaptada para realidade educacional brasileira, pelo o Inep, sobre a International Standard Classification of Education – Fields of Education and Training (Isced).
As maiores taxas médias de evasão nas áreas do CINE Brasil são:
• Programas básicos (são cursos da ABI): 19,7%.
• Ciências naturais, matemática e estatística (são cursos da área de naturezas e exatas): 14,8%.
• Educação (são cursos de licenciatura): 13,5%.
Tais resultados podem ser verificados na Tabela 2.
Tabela 2 - Taxa de Evasão por Área do CINE Brasil
Pesquisa Causas de Evasão
Contexto
Em 2019, a UFPE realizou uma pesquisa sobre as causas da evasão com os alunos que se evadiram entre os anos de 2014 e 2019. Dentro do processo, foram enviados 19.091 e-mails solicitando a participação na pesquisa e destes, 23,0% (4.384) responderam ao questionário e foram identificados de acordo com as nossas bases de dados. Em relação aos participantes dessa pesquisa, 74,4% estavam no mercado de trabalho, sendo que quando ainda eram estudantes da UFPE esse índice já era de 53,5%. A maioria dos pesquisados eram solteiros e não possuíam filhos. Em relação à vida acadêmica, 56,3% estava em outro curso universitário, na sua maioria na modalidade presencial e no turno diurno, destes 4,2% já estavam na pós-graduação e 34,0% voltaram a estudar na UFPE. Dos que pretendiam voltar a estudar, 24,4% pretendiam retornar à UFPE para o mesmo curso do qual se evadiu e 31,7% em outro curso. Em relação aos fatores que mais influenciaram na evasão do curso, os três mais citados foram: “Não ter certeza se estava no curso certo/dúvidas na escolha profissional”; “Decepção com o curso”; “Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais”. Mais detalhes da pesquisa com os discentes evadidos entre 2016 e 2020 podem ser encontrados no trabalho de Campos (2020).
População e Amostra
A população do atual estudo é formada por 12.442 estudantes de graduação (11.693 de cursos presenciais e 749 de cursos EaD) que se evadiram da Universidade Federal de Pernambuco, entre os anos 2020 e 2022.
O procedimento utilizado para obter as informações foi através de contato por e-mail, que foi obtido do cadastro dos alunos no sistema acadêmico da UFPE. Dos 12.442 estudantes da nossa população, 97,6% (12.148) tinham e-mails cadastrados no sistema acadêmico. Desses, 2.198 responderam a pesquisa, sendo 67 e-mails desconhecidos, os quais não conseguimos relacionar com o nosso banco de dados. Ficamos com cerca de 2.131 (17,1%) questionários respondidos (2000 questionários de cursos presenciais e 131 questionários de cursos EaD), representando assim a amostra final.
Metodologia
O questionário direcionado aos alunos evadidos foi adaptado a partir da Escala de Motivos para Evasão do Ensino Superior proposto originalmente por Ambiel (2015). O instrumento original é composto por 53 itens que avaliam possíveis motivos da evasão, em formato Likert de cinco pontos, variando de Muito Fraco (1) a Muito Forte (5). Para respondentes evadidos de cursos presenciais, reduzimos essa escala para 18 itens e, para respondentes evadidos de cursos à distância, a escala contou com 23 itens. Para auxiliar-nos na nossa análise, acrescentamos um questionário sociodemográfico de 7 perguntas e 1 pergunta aberta para o discente opinar sobre o que a UFPE poderia ter feito para ele não ter sido desligado.
Tanto o questionário para cursos presenciais quanto o questionário para cursos EaD (ANEXO A) foram implementados na ferramenta GoogleDocs e as respostas também foram armazenadas online. Para análise dos dados a partir de técnicas estatísticas foram utilizados os softwares Excel e o R Core Team. Os dados acadêmicos dos alunos foram retirados do Censo da Educação Superior de 2016 a 2022. Se o aluno foi desvinculado em mais de um curso no período analisado, foi considerada apenas a situação do seu último vínculo. Os endereços eletrônicos foram obtidos através da Superintendência de Tecnologia da Informação (STI).
Objetivo
Analisar a evasão dos estudantes da graduação da UFPE no período de 2020 a 2022, avaliando o perfil dos discentes e identificar as causas sob o ponto de vista dos evadidos.
Análise da População
Caractéristicas da População de Evadidos
A maioria dos discentes evadidos da população em estudo (entre os anos de 2020 e 2022), possuem as seguintes características:
• Sexo: Masculino.
• Tipo de escola do ensino médio: Privada.
• Era cotista: Não.
• Recebia algum apoio social: Não.
• Exercia alguma atividade extracurricular no curso: Não.
• Faixa etária: 16 a 25 anos.
• Recebia assistência estudantil: Não.
Tais resultados podem ser verificados na Tabela 3 e no Gráfico 4.
Tabela 3 - Perfil dos Discentes da População
Gráfico 4 - Percentual de Idades População de Evadidos
Tempo em Semestres até a Evasão da População de Evadidos
Entre todos os evadidos da população em estudo, 42,5% abandonaram o curso entre o primeiro e o segundo semestre. Tais resultados podem ser verificados na Tabela 4.
Tabela 4 - Tempo de Permanência em Semestres
Análise da Pesquisa
Respostas das Perguntas Sociodemográficas
Foi solicitado aos respondentes da pesquisa que respondessem 7 perguntas sociodemográficas. O maior percentual de discentes responderam o seguinte:
• 1) Estado civil quando eram estudante da UFPE: Solteiro (tanto para evadidos de cursos presenciais quanto para evadidos de cursos EaD).
• 2) Possuiam filhos quando eram estudante da UFPE : Não (tanto para evadidos de cursos presenciais quanto para evadidos de cursos EaD).
• 3) Trabalhavam quando eram estudantes da UFPE: os evadidos de cursos presenciais não trabalhavam, enquanto que os evadidos de cursos EaD trabalhavam até 44 horas semanais.
• 4) Trabalham atualmente: Sim, até 44 horas semanais (tanto para evadidos de cursos presenciais quanto para evadidos de cursos EaD).
• 5) Onde cursaram o ensino médio: Escola Pública (tanto para evadidos de cursos presenciais quanto para evadidos de cursos EaD).
• 6) Possui diploma universitário: os evadidos de cursos presenciais não possuem diploma, enquanto que os evadidos de cursos EaD já possuíam diploma na época da evasão.
• 7) Pretende voltar a fazer um curso universitário: Os evadidos de cursos presenciais já estão vinculados em um curso universitário, enquanto que os evadidos de cursos EaD pretendem voltar para o mesmo curso universitário e na UFPE.
O resultados para cada pergunta podem ser visualizados nas Tabelas 5 a 11, apresentadas a seguir.
Tabela 5 - Qual o estado civil dos respondentes quando eram estudantes da UFPE?
Tabela 6 - Os respondentes possuiam filhos quando eram estudantes da UFPE ?
Tabela 7 - Os respondentes trabalhavam quando eram estudantes da UFPE?
Tabela 8 - Os respondentes trabalham atualmente?
Tabela 9 - Onde os respondentes cursaram o ensino médio?
Tabela 10 - Os respondentes possuem diploma universitário?
Tabela 11 - Os respondentes pretendem voltar a fazer um curso universitário?
Escala de Motivos para Evasão
Cursos Presenciais
Entre as principais causas de evasão em cursos presenciais,representadas nas cores em verde, temos: Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais (37,8%); Dificuldades finaceiras (34,2%); e Problemas pessoais (saúde, familiares, entre outros) (31,7%). Em outras palavras, foram considerados principais motivos aqueles que apresentaram um alto percentual de respostas indicando uma influência de moderada a muito forte na decisão de abandonar o curso. Os resultados são apresentados no Gráfico 5.
Gráfico 5 - Escala Likert de Motivos para Evasão - Cursos Presenciais
Cursos EaD’s
Entre as principais causas de evasão em cursos EaD temos: Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais (44,2%); Falta de apoio pedagógico por partes dos docentes (24,4%); e Morar longe do polo de apoio presencial (24,4%). As interpretações foram feitas de acordo com a predominância das respostas das escalas “Forte” e Muito Forte” (cores em verde). Os resultados são apresentados no Gráfico 6.
Gráfico 6 - Escala Likert de Motivos para Evasão - Cursos EaD’s
Respostas da Pergunta Aberta
Nuvem de Palavras para os Cursos Presenciais
Na Figura 1, temos a Nuvem de Palavras com as principais palavras que mais foram citadas na reposta da pergunta aberta “Principal razão do seu desligamento da UFPE”, em cursos presenciais:
• curso; trabalho; minha; pandemia; estava; falta; muito; ufpe; tinha; aulas; tempo; trabalhar; época; consegui; outro; tive; professores; horário; universidade; problemas; conciliar; saúde; faculdade.
Figura 1 - Nuvem de Palavras para os Cursos Presenciais
Nuvem de Palavras para os Cursos EaD’s
Na Figura 2, temos a Nuvem de Palavras com as principais palavras que mais foram citadas na reposta da pergunta aberta “Principal razão do seu desligamento da UFPE”, em cursos EaD:
• curso; minha; estava; tempo; trabalho; consegui; falta; muito; tinha; aulas; acompanhar; outro; conciliar; dificuldade; disciplinas; fazer.
Figura 2 - Nuvem de Palavras para os Cursos EaD’s
Análises Complementares
Algumas análises adicionais, filtradas por modalidade, por centro e por curso, são apresentadas a seguir. Nessas análises, as características sociodemográficas, a natureza do grau acadêmico do curso e a relação de alunos que recebiam ou não apoio social, seja por meio da assistência estudantil, bolsas de incentivo acadêmico ou bolsa de desenvolvimento profissional, são analisadas considerando os motivos de evasão. Essas análises foram feitas usando a Razão de Chances e Teste de Hipóteses para verificar se existe relação entre as variáveis consideradas e os motivos de evasão.
• Análise Complementar.
Conclusão
A taxa de evasão na UFPE variou de 8,8% e 14,5% ao longo dos anos de 2016 a 2022. Entre os três campi, o Campus de Caruaru foi o que apresentou a maior taxa média de evasão. Ainda, a taxa média de evasão foi maior nos cursos de educação a distância. De modo geral, a taxa média de evasão foi maior nos cursos ofertados nos turnos vespertinos e noturnos, assim como nos cursos do grau de licenciatura. Quanto as áreas do CINE Brasil, as maiores taxas médias de evasão são nosProgramas básicos, nas áreas de Ciências naturais, matemática e estatística, e de Educação.
Com relação ao perfil dos alunos evadidos no período analisado, (2020 - 2022), a maioria deles é do sexo masculino, com idade máxima de 25 anos no momento da evasão e oriundos de escolas privadas. Não eram cotistas, não recebiam apoio social, não exerciam atividades extracurriculares no curso e não recebiam assistência estudantil. Ainda, notou-se que essa maioria dos evadidos abandonaram o curso entre o primeiro e o segundo semestre.
Em relação as perguntas sociodemográficas, a maioria dos discentes quando eram estudantes da UFPE eram solteiros e não possuíam filhos. A grande maioria cursaram o ensino médio em escola pública. Dos evadidos de cursos presenciais, quase a metade não trabalhavam, enquanto que a maioria dos evadidos de cursos EaD trabalhavam até 44 horas semanais; Já no momento da pesquisa, a maioria dos evadidos de ambas modalidades trabalhavam por pelo menos 30 horas semanais. Entre os evadidos de cursos presenciais, a maioria ainda não possuem nenhum diploma universitário, no entanto mais de 30,0% já estão vinculados a um curso e mais de 58,0% pretende voltar a estudar. Enquanto que os evadidos de cursos EaD, mais da metade já possuíam diploma na época da evasão, mesmo assim cerca de um quarto deles estão vinculados novamente a um curso e quase 70,0% pretende voltar a estudar, sendo que 33,6% responderam querer voltar para o mesmo curso da UFPE.
Em relação aos fatores que mais influenciaram na evasão do curso, os mais citados foram:
• Cursos Presenciais: Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais; Dificuldades finaceiras; e Problemas pessoais (saúde, familiares, entre outros).
• Cursos EaD: Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais; Falta de apoio pedagógico por partes dos docentes; e Morar longe do polo de apoio presencial.
Comparando a pesquisa atual com a pesquisa anterior, realizada com os evadidos de cursos presenciais dos anos de 2014 a 2019, o único fator que continua influenciando na evasão é “Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais”.
Em síntese, as palavras apresentadas nas nuvens de palavras tratam de um contexto acadêmico e profissional ambientado na UFPE, especialmente considerando desafios enfrentados durante a pandemia e os desafios pessoais dos discentes de conciliar trabalho e estudo.
Por fim, com a nossa “Pesquisa Causas de Evasão” podemos compreender as razões por trás da evasão dos estudantes de graduação da UFPE, levando em conta o perfil dos discentes e as perspectivas dos próprios evadidos, para assim proporciona o desenvolvimento de ações e estratégias eficazes que visem reduzir a desistência e promover um ambiente acadêmico mais inclusivo.
ANEXO A
Os questionários aplicados podem ser acessados clicando aqui.